Postado em 14/04/2010 no Site: http://www.greenpeace.org/brasil/pt/O-que-fazemos/Transgenicos
Plantação de arroz vermelho, variedade
que pode desaparecer com a plantação de arroz transgênico. ©
Greenpeace / Lunaé Parracho
A introdução
de transgênicos
na natureza
expõe nossa biodiversidade a sérios riscos, como a perda ou alteração
do patrimônio
genético de nossas plantas e sementes e o aumento
dramático no uso de agrotóxicos. Além disso, ela torna a agricultura e os
agricultores reféns de poucas empresas que detêm a tecnologia,
e põe em risco a saúde de agricultores e consumidores.
O Greenpeace
defende um modelo de agricultura baseado na biodiversidade
agrícola e que não se utilize de produtos tóxicos, por entender que
só assim teremos agricultura para sempre.
Os transgênicos, ou organismos
geneticamente modificados, são produtos de cruzamentos que jamais aconteceriam na natureza,
como, por exemplo, arroz com bactéria.
Por meio de
um ramo de pesquisa relativamente novo (a engenharia genética), fabricantes de
agroquímicos
criam sementes resistentes a seus próprios agrotóxicos, ou mesmo sementes
que produzem plantas inseticidas.
As empresas ganham com isso, mas nós pagamos
um preço alto: riscos à nossa saúde e ao ambiente onde vivemos.
O modelo
agrícola baseado na utilização de sementes transgênicas é a trilha de
um caminho insustentável. O aumento dramático no uso de agroquímicos
decorrentes do plantio de transgênicos é exemplo de prática que coloca em
cheque o futuro dos nossos solos e de nossa biodiversidade agrícola.
Diante
da crise climática em que vivemos, a preservação da biodiversidade funciona
como um seguro, uma garantia de que teremos opções viáveis de produção de
alimentos no futuro e estaremos prontos para os efeitos das mudanças climáticas
sobre a agricultura, Nesse cenário, os transgênicos representam um duplo risco.
Primeiro por serem resistentes a agrotóxicos, ou possuírem propriedades
inseticidas, o uso contínuo de sementes transgênicas leva à resistência de
ervas daninhas e insetos, o que por sua vez leva o agricultor a aumentar a dose
de agrotóxicos ano a ano. Não por acaso o Brasil se tornou o maior consumidor
mundial de agrotóxicos em 2008 – depois de cerca de dez anos de plantio de
transgênicos – sendo mais da metade deles destinados à soja, primeira lavoura
transgênica a ser inserida no País.
Além
disso, o uso de transgênicos representa um alto risco de perda de
biodiversidade, tanto pelo aumento no uso de agroquímicos (que tem efeitos
sobre a vida no solo e ao redor das lavouras), quanto pela contaminação de
sementes naturais por transgênicas. Neste caso, um bom exemplo de alimento
importante, que hoje se encontra em ameaça, é o nosso bom e tradicional arroz.
A
diversidade do arroz brasileiro congrega desde o arroz branco plantado no Rio
Grande do Sul, que é adaptado a temperaturas amenas, àquele plantado no
interior do nordeste, vermelho, resistente a climas quentes e secos. Ambos são
necessários, sem seus respectivos climas e solos, para garantir que o cidadão
brasileiro tenha sempre arroz em seu prato, em qualquer região do país.
Ativistas do Greenpeace protestam em um supermercado contra
a falta de rotulagem adequada nos produtos fabricados pelas empresas Bunge e
Cargill. ©Greenpeace/Ivo Gonzalez
“É
melhor prevenir do que remediar”. Esta expressão cai como uma luva quando
falamos de liberação e consumo de transgênicos.
Consumimos
hoje diversos alimentos com ingredientes à base de transgênicos, produzidos
para matar insetos e resistir a agrotóxicos. Você deve achar que exaustivos
testes foram feitos, e todas as pesquisas que apontam possíveis riscos foram
levadas em consideração, para que transgênicos fossem liberados. No entanto,
isso não acontece.
Não
existe consenso na comunidade científica sobre a segurança dos transgênicos
para a saúde humana e o meio ambiente. Testes de médio e longo prazo, em
cobaias e em seres humanos, não são feitos, e geralmente são repudiados pelas
empresas de transgênicos.
Neste
contexto, o Greenpeace considera que a liberação de transgênicos é uma afronta
ao princípio da precaução, e uma aposta de quem não tem compromisso com o
futuro da agricultura, do meio ambiente, e do planeta.
Desde
que os transgênicos chegaram clandestinamente ao Brasil, em 1997, o Greenpeace
trabalhou para que o consumidor pudesse identificá-los e decidir se compraria
ou não.
Em
2003, foi publicado o decreto de rotulagem (4680/2003), que obrigou empresas da
área da alimentação, produtores, e quem mais trabalha com venda de alimentos, a
identificarem, com um “T” preto, sobre um triangulo amarelo, o alimento com
mais de 1% de matéria-prima transgênica.
A
resistência das empresas foi muito grande, e muitas permanecem até hoje sem
identificar a presença de transgênicos em seus produtos. O cenário começou a
mudar somente após denúncia do Greenpeace, em 2005, de que as empresas Bunge e
Cargill usavam transgênicos sem rotular, como determina a lei. O Ministério
Público Federal investigou e a justiça determinou que as empresas rotulassem
seus produtos, o que começou a ser feito em 2008.
A
partir de 2007, parlamentares da bancada ruralista, impulsionados pela
indústria da alimentação e empresas de transgênicos, propuseram projetos de lei
que visam acabar com a rotulagem. O Greenpeace está de olho nestas iniciativas
que visam bulir com nosso acesso à informação.
A
rotulagem de produtos transgênicos é um direito básico dos consumidores.
Todos
nós temos o pleno direito de saber o que consumimos. Fome
no mundo: a solução é agricultura para sempre
Para
os agricultores que cultivam plantações convencionais ou orgânicas, a contaminação
e a inserção em massa de sementes transgênicas no mercado têm implicado em
prejuízo. Eles têm perdido o direito de vender suas safras como convencionais
ou orgânicas, que são mais valorizadas no mercado, e ainda por cima são
obrigados a pagarem royalties por algo que eles não queriam.
Os
defensores dos transgênicos dizem que eles podem ser uma solução ao problema da
fome no mundo, pois podem levar ao aumento da produção de alimentos. Mas
realidade é bem diferente.
A
totalidade dos transgênicos plantados no Brasil, e a quase totalidade dos
transgênicos plantados no mundo são plantas resistentes a agrotóxicos ou com
propriedades inseticidas. A produtividade dos transgênicos não é superior à dos
convencionais e orgânicos, e a semente é mais cara por conta dos royalties a
serem pagos, o que aumenta o custo de produção.
Considerando
isso, e somando-se seus impactos sobre a biodiversidade agrícola e aumento no
uso de agrotóxicos, só uma conclusão é possível: os transgênicos são um
problema, e não a solução, para a fome no mundo.
Soluções
-
Proibição de aprovações de novas culturas transgênicas, em especial aquelas que
são a base da alimentação de nossa população.
-
Rotulagem dos produtos transgênicos, para atender plenamente a um direito do
consumidor de saber o que está comprando.
-
Fiscalização e cuidado na cadeia para que não haja contaminação.