Quando um
grupo de cidadãos se reúne para incentivar a matança de seres vivos na natureza, devemos nos alertar sobre algo
estar muito errado... ou essas pessoas estão radicalizando de forma imprudente ou
estão usando a questão como mera plataforma midiática para ter visibilidade à
custa de sensacionalismo. Sendo a segunda opção, eles já foram bem-sucedidos.
No Jornal Nacional (Rede Globo) do último sábado, dia 19, William Bonner abriu a matéria “Incentivo à Pesca de Tubarões em Recife revolta ambientalistas em Pernambuco” dizendo que um grupo de
cidadãos criou um movimento em Pernambuco
que incentiva a captura de tubarões
no estado. Mais à frente, a repórter diz
que, em função dos 57 ataques com 21
fatalidades (números incorretos)
nos últimos 20 anos, o medo dos
tubarões se espalhou e chegou ao ponto de um grupo se reunir para combinar
estratégias para evitar novos ataques. O movimento, que se denomina Propesca, defende a captura dos
animais, fornece material para os pescadores e até oferece uma recompensa em dinheiro.
A matéria
diz ainda que o grupo, formado por engenheiros
de pesca, biólogos e médicos, defende também a instalação de uma tela de aço galvanizado ao longo dos
16 quilômetros de litoral como medida protetora. E o coordenador do grupo, Bruno Pantoja, afirma em tom de ameaça
(ou chantagem): “a
partir do momento que forem implantados os sistemas de segurança que nós
propomos, nós cessamos todas as ações de captura”.
Eu poderia
simplesmente dizer que se trata de um grupelho de ineptos que age de forma
irresponsável, mas, em benefício do esclarecimento, arrolo abaixo o que penso
sobre o assunto.
1 –
Incentivar a captura dos tubarões para evitar ataques
Achar que
eliminando os tubarões eles acabarão com os ataques é um pensamento lógico, mas
completamente absurdo e antiecológico.
É tão óbvio e absurdo quanto dizer que acabando com os leões, elefantes e
hipopótamos na África cessarão os ataques desses animais. E é antiecológico
porque os tubarões exercem um papel
crucial na manutenção da saúde e do equilíbrio dos ecossistemas marinhos,
incluindo o litoral pernambucano, e, sem a presença deles, as consequências
serão imprevisíveis.
2 –
Contribuir para a imagem sensacionalista e irreal dos tubarões
Ao acreditar
que a solução para dar segurança nas praias passa por “limpar as águas infestadas por
essas feras”, essas pessoas contribuem para fortalecer a distorcida
imagem do tubarão como um animal perverso e sanguinário e para estimular a
fobia coletiva.
3 – Tratar a
questão dos ataques de forma leviana
Os
incidentes com os tubarões na Grande Recife começaram após um desequilíbrio
ambiental provocado pelo homem, com a construção
do Porto de Suape no início da década de 1990, que conjugou fatores locais
específicos que aumentaram tremendamente a interação entre o homem e o tubarão
e, consequentemente, os riscos de ataque. E, desde então, ataques de tubarão,
com mutilações e mortes, passaram a ser um problema real que exigia soluções (foram 15 ataques somente em 1994). E
para tratar do problema, pode-se atuar sobre duas pontas: os tubarões ou as
pessoas.
Ao contrário
do Propesca, que agora promove uma
insana caçada aos tubarões, como no filme de ficção do Spielberg, o Comitê Estadual de Monitoramento de
Incidentes com Tubarões (CEMIT)
fez a escolha certa e de bom-senso __ atuar principalmente sobre as
pessoas. Composto por representantes dos mais diversos segmentos da sociedade,
o CEMIT foi criado pelo Governo do Estado de Pernambuco, em
maio de 2004, com o objetivo de
discutir, deliberar e implantar ações recomendadas pelos workshops realizados
em 1995 e 2004 (do qual participei). Desta forma, o CEMIT realizou campanhas educativas, estabeleceu fiscalização,
orientação e segurança nas praias e promoveu a pesquisa e o monitoramento dos
tubarões.
Apesar dos
interesses conflitantes dos diversos setores da sociedade pernambucana, não
obstante o respeito devido aos atacados e seus familiares (conheci alguns nas
palestras que ministrei em Recife) e
a despeito do Propesca insistir que
o risco e o medo aumentaram, os números comprovam que o CEMIT fez e continua fazendo
um excelente trabalho de esclarecimento e de educação dos surfistas e banhistas,
com visíveis resultados na prevenção e queda dos ataques. De 1990 a 2004, foram 46 ataques com 18 fatalidades, o que dá uma média
de 3,3 ataques por ano. Depois da
criação do CEMIT, de 2005 a 2012, houve apenas 09 ataques com 03 fatalidades,
configurando uma média de 1,3 ataques por ano.
4 – Oferecer
recompensa em dinheiro para a captura de tubarões
Não sou
advogado ou jurista, e por isso não posso afirmar que oferecer recompensa para capturar tubarões é crime ambiental, mas,
como cidadão, acredito que seja absolutamente antiético fazer isso. Ainda mais
em se tratando de um grupo constituído por pessoas de nível superior. Pessoas
que deveriam ser mais esclarecidas e dar bons exemplos.
5 – Instalar
tela de aço ao longo do litoral de Recife
Se no Estado de Pernambuco foram 55 ataques nos últimos 22 anos, no Estado da Flórida (EUA) ocorreram 500 ataques
no mesmo período. Ou seja, dez vezes mais. Mas lá não se vê grupelhos
empenhados na eliminação dos tubarões ou na defesa de instalação de redes ou
telas de proteção. E por que não?
Porque redes e telas de proteção são coisas de um
passado em que não existia preocupação ou respeito pela vida dos outros seres
vivos que nos rodeiam e compartilham o Planeta conosco. Uma época em que se caçava baleia e se matava
passarinho. Está mais do que provado que redes
e telas de proteção sacrificam inúmeras outras espécies de animais marinhos
que nada têm a ver com o problema dos ataques de tubarão.
Além disso,
a tela de aço precisaria ser muito bem vistoriada e conservada ao longo do
tempo para evitar a criação de buracos que permitiriam a entrada de tubarões
que, posteriormente, percorreriam a praia à procura de uma saída. Ou seja, a tela de aço poderia atuar no sentido
oposto, como uma armadilha, aprisionando os tubarões. E, em se tratando de Brasil, as chances de isso acontecer
seriam grandes.
Espero que eu tenha sido capaz de me fazer
entender, especialmente para os membros do Propesca.
Ainda assim, dois colegas meus __ Rosangela Lessa, atual presidente do CEMIT, e Francisco Santana, atual presidente da Sociedade Brasileira de Estudos
de Elasmobrânquios (SBEEL),
ambos professores da UFRPE e
altamente conceituados nessa área, talvez possam fazê-los entender melhor do
que eu.
Quer saber mais sobre os
tubarões e entender o porquê desses ataques? Assista a Palestra Online Mitos e Verdades sobre
os Tubarões. Depois dessa palestra,
sua opinião sobre os tubarões nunca mais será a mesma.
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Projeto Tubarões no Brasil
(PROTUBA)
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*Marcelo Szpilman, é biólogo marinho formado pela UFRJ, com Pós-graduação
Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é autor dos livros Guia
Aqualung de Peixes (1991) e de sua versão ampliada em inglês Aqualung Guide to
Fishes (1992), Seres Marinhos Perigosos (1998), Peixes Marinhos do Brasil
(2000) e Tubarões no Brasil (2004). Por ser um dos maiores especialistas em
peixes e tubarões e escritor de várias matérias e artigos sobre natureza,
ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas
revistas, jornais, blogs e sites, Marcelo Szpilman é muito requisitado para
ministrar palestras, conceder entrevistas e dar consultoria técnica para
diversos canais de TV. Atualmente, é diretor do Instituto Ecológico Aqualung,
diretor do Projeto Tubarões no Brasil, membro do Conselho da Cidade do Rio de
Janeiro (área de Meio Ambiente e Sustentabilidade), membro e diretor do Sub
Comitê do Sistema Lagunar da Lagoa Rodrigo de Freitas e colunista da Rádio
SulAmérica Paradiso FM 95,7 com o boletim ECO PARADISO, em duas edições diárias
sobre meio ambiente e sustentabilidade.
Texto conforme postado em janeiro de 2013:
http://www.institutoaqualung.com.br/Site/Conteudo/Artigo.aspx?C=Bax3KB86FCM%3D
Texto conforme postado em janeiro de 2013:
http://www.institutoaqualung.com.br/Site/Conteudo/Artigo.aspx?C=Bax3KB86FCM%3D
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Verso - http://amigosdocemit.blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html |
1 - Quando a vida em
sua plena totalidade valerá mais que o dinheiro na concepção de alguns?
2 - Quando estes que
pensam que a natureza para sempre se renovará, entenderão que ela, esse bem tão
precioso, não é de toda renovável?
3 – Quando é que
alguns entenderão da importância de praticar atos sustentáveis?
4 – Quando é
que nossas escolas contribuirão de maneira efetiva e consciente, desde o bê-á-bá
até as universidades, para que nossos jovens possam perpetuar o conceito ecológico
de forma mais adequada por toda a sua existência?
5 – Quando o
homem ira perceber que ele é apenas um dos elos da corrente universal, e que o
fato de ser um animal com capacidade de pensar, não o torna dono do mundo?
É possível dar ordem ao caos.
Pense verde, o planeta azul agradece.
Abraços, sempre!!!...
Mu®illo diM@tto♪