Pela
terceira vez, se não me engano, eu parei para assistir o curta-metragem brasileiro,
chamado The Red Alert –
Slaughter of Amazon River (O Alerta
Vermelho - O abate do Rio Amazonas), produzido em parceria com a AMPA - Associação dos
Amigos do Peixe-boi, a LMA/INPA e por Eduardo Gomes (conhecido também como “Nativo”),
que é também o narrador do vídeo. A AMPA inicialmente foi criada
com o objetivo de proteger o majestoso peixe-boi do risco
de extinção, mas o documentário, no entanto, não aborda a situação
desse belíssimo animal, e sim
de outro, tão simpático
quanto, mas só que com um pouco mais de carisma, já
que esse interage mais
com a gente, como se fosse um cão dócil nos fazendo festa... falo de um esperto
cetáceo, um mamífero aquático que é endêmico
a Região
Amazônica, o boto cor-de-rosa (Inia
geoffrensis), e que é o maior
golfinho de água doce do mundo, também conhecido como boto-vermelho,
e que assim é tratado nesse documentário.
Acho que justamente por ter essa qualidade festeira,
e por uma aguçada curiosidade,
é que o boto-vermelho
é uma presa fácil... e portanto, alguns homens, na qualidade de
pescadores, se
prevalecem disso, capturam-no e o matam. O vídeo, no
entanto, e que bom por isso, revela que nem todos os pescadores adotam
essa prática
cruel.
A priori, o pensamento que vem é que seria para o sustento
deles, mas não é, pois que ninguém o come... ele é capturado para servir de isca para a piracatinga (Callophysus
macropterus), ou urubu d’água... uma espécie de bagre
facilmente encontrada nos rios amazônicos,
e por isso, talvez, exista hoje essa procura tão grande por sua pesca, já
que há em abundância.
É de conhecimento geral que alguns pescadores não
gostam do boto,
por esse destruir as suas redes de pescas,
justamente pela facilidade de pegarem os peixes que
ali estão presos, e com isso, talvez, o tenham escolhido para servir de isca, mesmo que
haja uma explicação cientifica
para essa atitude, a de que o boto exala muito
rápido um forte odor, depois
de morto, e como as piracatingas
são atraídas por carniça, a captura
dessas é mais rápida ainda, usando esse processo.
Como diz em um trecho do site da AMPA:
"Além
de ilegal, imoral e cruel, a caça tem afetado
drasticamente as populações dos botos da Amazônia. Há
registros de caçadores, especializados em botos, que
matam mais de 20 animais, por expedição, para serem comercializados com ribeirinhos".
O
resumo do documentário é isso: a questão ambiental de
que botos são mortos para servirem de isca, e isso pode levá-los a extinção, e
a questão da condição
social de que muitos sobrevivem somente através da pesca, por não terem
opção de sustento,
também não é esquecida... e aqui cabe um parêntese, que nesse pacote, jacarés,
também são usados como iscas, e que também merecem ser salvos, é claro.
Nessa
prática, com certeza, não são os pescadores que
mais lucram, e sim os grandes frigoríficos
de Manaus - AM. E que essa questão
socioambiental tem que ser revista por governo e sociedade...
e não somente os de lá, e sim de todo o país, afinal
a nossa unidade tem
que se fazer valer para alguma coisa que não seja somente o futebol.
Gostaria de ver nosso povo unido em prol de causas
assim, com a mesma intensidade que há para se defender e torcer
por um time. Será que chegaremos a esse nível de consciência um dia?
Quando
parei para assistir esse “pequeno documentário”, mas que muito diz, eu o
fiz por que cuidava de um outro assunto, meio que parecido com esse, só que lá
do outro lado do planeta, precisamente em Taiji, sul do
Japão, aonde
de setembro até maio,
acontece a matança anual e
cruel de golfinhos
de varias espécies,
onde a mais visada é o golfinho-rotador
(Stenella longirostris).
Essa prática, essa
matança brutal,
que é considerada por alguns habitantes de Taiji, como cultural,
já foi muito bem abordada em um documentário espetacular: A Enseada (The Cove),
lançado em 2009,
e cuja repercussão
foi tanta, que ganhou, entre outros prêmios, um Oscar em 2010 na
categoria de melhor
documentário do ano.
O filme é dirigido por Louie Psihoyos,
e mostra na prática um grupo de ativistas,
liderados por Ric O'Barry,
(ex-treinador de golfinhos e que chegou até a trabalhar em Flipper,
um sériado da década de 1960).
Este grupo enfrenta a
hostilidade da Yakuza (a máfia japonesa),
da policia e dos
pescadores
locais, tudo para que ninguém chegue aonde os golfinhos são
mortos com requintes de crueldade, e assim não obterem o registro do extermínio sangrento desses
animais para
divulgação, pois como o vídeo mostra, o resto do povo do Japão não tinha
conhecimento do fato.
Os animais capturados são utilizados para diversos fins, um
deles é a venda para os grandes aquários do mundo, que os expõem, o outro “era”
a venda (ou doação) da carne para a merenda escolar,
onde crianças eram
servidas sem que se observassem, no entanto, o nível de toxinas
presentes nesses animais,
pois infelizmente, os golfinhos que
mergulham nessas águas se
contaminam com mercúrio,
o que leva o documentário a tratar de uma outra questão, que ficou
conhecida como o Desastre de Minamata, e que causou a doença
que recebe o mesmo nome dessa baia, também localizada no Japão. A
causa foi algo lá pela década de 1930 quando
a indústria de
nome Chisso, acobertada pelo governo japonês,
lançava dejetos
contendo mercúrio
na Baía de Minamata.
O documentário tem apelos e cenas marcantes... é uma aula e um exemplo na
luta pela preservação
dessa espécie simpática e inteligente.
|
Ric O'Barry |
Eu
preciso fazer aqui um comparativo: tanto uma questão quanto a outra, mostra o descaso de
alguns sobre como não preservar o
que é merecedor de todo o respeito, a vida de seres
importantíssimos, e também de como as pessoas alienadas
aos fatos são conduzidas a realizá-los, sem que se perceba o quanto isso pode
ser danoso ao ambiente e a
elas próprias (só não entendo como são indiferentes a violência?!).
A falta de orientação
e a pouca condição financeira
de muitos, permitem que uma minoria, mal
intencionada e mais abastada,
use, através de meios ardilosos,
práticas que lhes deem o lucro certo,
mesmo não importando a forma e os resultados
prejudiciais causados por seus atos. E quando isso acontece, a condição social
dos envolvidos é automaticamente analisada, e verdadeiramente até, como um “obstáculo”,
para que a questão ambiental
não seja prontamente autuada e
solucionada... é onde ocorre a “pausa”, para que assim, aqueles
que são os mandantes se aproveitem e estruturem novos artifícios judiciais,
que quando elaborados, sejam impostos e prolonguem a causa, talvez até
por anos... é a esperteza do capital,
sobre a inocência (nem sempre) do necessitado
e a incapacidade (ou
conveniência) dos governos.
Essa é uma luta que tem que ser vista de cima para baixo, mas como? Eu pergunto.
Usando a justiça, como ferramenta plena, para que a aplicabilidade, não
corrupta, das leis seja cumprida... o que me leva a uma outra pergunta:
como de fato se consegue isso?! Respondo: Lutando sem desistência...
pois a perseverança nos impulsionará de modo que a justiça que queremos empregar não tenha como ser falha... é isso que a AMPA nos ensina, é isso que fazem Eduardo (Nativo) Gomes e Ric O'Berry e equipe....
Links de sustentação, faça
a sua pesquisa:
O documentário The Red
Alert:
Conheça o site da AMPA, e
saiba como ela está tratando essa questão e outras mais referente aos nossos
mamíferos aquáticos – Contém a reportagem do Fantástico sobre a matança de
golfinhos:
Pesquisa Google sobre o
documentário A Enseada (The Cove):
Assista A Enseada (The
Cove) - Documentário que denuncia a mortandade de golfinhos no Japão:
Pesquisa sobre o Desastre
de Minamata:
É possível dar ordem ao caos.
Pense verde, o planeta azul agradece.
Abraços, sempre!!!...
Mu®illo diM@tto♪