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Vista do arraial de Bento Rodrigues (© Victor Moriyama / Greenpeace)
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Greenpeace chega as comunidades de Mariana, em Minas Gerais, para
documentar a tragédia causada pelo rompimento das barragens da
mineradora Samarco.
14 de novembro - sábado
Terra arrasada não é suficiente para definir o cenário desolador que
deu lugar aos distritos da cidade mineira de Mariana. Contrariando os
avisos de que todos os acessos ao arraial de Bento Rodrigues, primeira
comunidade a ser atingida pelo rompimento das barragens da Samarco,
estariam fechados, encontramos uma estrada privada – de mineração – que
nos deixou a menos de 100 metros do pequeno vilarejo.
No caminho, cenas aterradoras de enormes porções de terra totalmente
lavadas pela força da lama composta de rejeitos minerais. Pesquisadores
do Greenpeace levantaram que um corredor de aproximadamente 500 hectares
de lama foi formado no arredores do arraial de Bento Rodrigues, o
equivalente a 700 campos de futebol.
A estrada estava de fato bloqueada, mas não pelo Corpo de Bombeiros
ou Defesa Civil, e sim pela própria lama que engolfou parte do caminho.
Hora de seguir a pé. Andamos dois quilômetros em meio em um mar mole de
barro até alcançarmos um morro que nos colocou frente a frente com a
comunidade de Bento Rodrigues. Segundo os moradores, cerca de 80% do
lugar foi devastado, restando apenas escombros e animais abandonados que
vagam pela destruição em busca de qualquer alimento.
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Antônio Geraldo de Paula perdeu duas casas na tragédia, mas sua família inteira sobreviveu (© Victor Moriyama / Greenpeace)
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Antônio Geral de Paula, conhecido como "Bem Amado", morava há 40 anos no arraial com a esposa, cunhado, filhos e neto. “Não perdi ninguém, graças
a Deus. Em 10 minutos lama veio de lá a aqui. Perdi duas casas...
estamos voltando para tentar pegar os bichos. As galinhas e os cachorros
tão tudo lá, passando fome. Eu até entendo ter que fechar o local, mas
eles podiam deixar a gente tirar as coisas de lá pelo menos. Ou fazer
pelo menos um grupo de voluntários para voltar com os bombeiros”. O
agricultor de 52 anos aponta para a caçamba da sua caminhonete, onde
dois bezerros trêmulos de medo e ensopados de lama se equilibram no piso
frisado e irregular. “Elas tavam atoladas no barro, de hoje não
passariam. Por sorte a gente conseguiu salvar”. Perguntado como
conseguiu escapar da enxurrada de lama, "Bem Amado" diz que foi o grito
dos moradores que salvou ele e sua família.
Entre o morro e o arraial de Bento Rodrigues, um antigo córrego se
transformou num rio intransponível de lama. Conseguimos fazer imagens de
longe e um sobrevoo com o drone. Quanto mais perto chegávamos, mais a
perna afundava no solo mole e mais alto gritavam os trovões da chuva que
se aproximava.
Seguimos então para o distrito de Paracatu de Baixo, o segundo arraial
mais atingido pela tragédia. De um lado, estrada bloqueada por uma
barreira de terra. Do outro, uma ponte que foi consumida e desaparecera
após a violenta lama chegar à comunidade. Novamente um cenário
desolador, onde os verdes morros de Minas Gerais foram
substituídos por irregulares montanhas de lama cinza.
Encontramos com Geraldo Nascimento, de 69 anos, olhando da beira da
estrada uma casa amarela destruída. “Essa casa era minha. Morava aí faz
mais de 40 anos com a minha mulher. Meus filhos já saíram todos de Mariana,
graças a Deus não precisaram passar por isso”, ele aponta para o buraco
aberto na parede de seu quarto. “Eles ligaram aqui para casa né, falaram
pra gente sair. Deu tempo de ir para a casa da minha filha, aqui perto.
Agora a Samarco me disse que quer reconstruir a minha casa. Mas parece
que tem outra barragem aí em risco né, então acho que aqui eu não fico
mais não”.
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A casa do Sr. Geraldo foi destruída pela força da lama (© Victor Moriyama / Greenpeace)
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De fato a barragem do Germano, que compõe o complexo de barragens da
Samarco e é ainda maior que as do Fundão e de Santarém (as duas que
arrebentaram no dia 5 de novembro), está com um trinca de 3 metros,
segundo o Corpo de Bombeiros. Tentamos acesso, mas em vão. Na portaria, o
guarda nos informou que nem mesmo a Samarco está autorizada a acessar a
área.
De volta à Mariana, visitamos o ginásio municipal que recebia as doações
vindas de todo o país. Pilhas e pilhas de fraldas, sapatos, produtos de
higiene pessoal, cobertor, roupa, produtos de limpeza, brinquedos
infantis e galões de água se acumulavam no local. Segundo a coordenadora
dos voluntários, Adelma Borges, as doações vieram de todo o Brasil e
não param de chegar. “Vamos interromper o recebimento de doação no
domingo, às 16h. Já temos muita coisa. O estádio municipal também tá
cheio de doação, mais que aqui. Agora a gente precisa organizar tudo”.
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Voluntário em meio às pilhas de doações no Ginásio Municipal de Mariana (© Victor Moriyama / Greenpeace)
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A solidariedade massiva, tanto de quem doou, como dos inúmeros
voluntários correndo para lá e para cá, é um pequeno consolo ao nosso
dia repleto de tristeza causada pela tragédia. Agora seguiremos o curso
do Rio Doce, que foi tomado pela lama, para documentar os impactos que
os rejeitos minerais da Samarco – empresa controlada pela Vale e pela
anglo-australiana BHP Billiton – deixaram em seu caminho.
15 de novembro - domingo
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O RIo Rigualacho, na comunidade de Paracatuzinho, Minas Gerais, deu
lugar a um corredor de lama cercado por árvores mortas (© Victor
Moriyama / Greenpeace)
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Pela manhã chegamos ao povoado de Paracatuzinho, em Minas Gerais, já a
100 quilômetros da cidade de Mariana. O Rio Rigualaxo, que corta essa
comunidade e outras no caminho, deu lugar a um rio de lama cercado de
montes e mais montes de barro seco. Olhando suas beiradas, árvores jazem
deitadas como peças de dominó caídas ao longo de todo seu curso. Dá
para notar a marca da lama em seus troncos, que alcança quase a copa das
árvores.
Continuamos numa estradinha de terra, beirando a destruição, rumo a
cidade de Barra Longa, ainda no estado mineiro, onde soubemos que muitas
casas também foram destruídas e famílias desalojadas. No caminho,
passando pelo povoado de Barreto, a estrada estava bloqueada por um
caminhão pipa e carros de funcionários da Samarco, que estavam no local
distribuindo doações.
Nos aproximamos e conversamos com Sr. Francisco, nascido em Barreto, que
acompanhava os funcionários da mineradora com muita curiosidade.
Segundo ele, é impossível o acesso para as cidades vizinhas, uma vez que
diversas pontes foram destruídas pela força da lama. “Nós estamos
presos aqui. Minha mulher está precisando de remédio para o coração, mas
nunca chega”.
Nesse momento, os funcionários da Samarco interromperam nosso papo e
chamaram o Sr. Francisco e outros dois amigos dele que estavam conosco
para um ligeiro mídia training. Ouvíamos de longe: “Muitas
pessoas virão aqui, fazer entrevista... As pessoas sempre vão querer
falar o lado ruim das coisas. Mas vocês também têm que falar do lado
bom, que não é tudo ruim, que também estamos fazendo o bem”.
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Funcionários da Samarco chamam Sr. Francisco, de chapéu, para uma 'orientação' (© Victor Moriyama / Greenpeace)
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Com o caminhão pipa enchendo as caixas d’água de Barreto, tivemos que
dar meia volta e tentar outro caminho. Depois de patinar o carro em
muita lama, chegamos a uma ponte totalmente destruída. O único jeito era
voltar até a estrada de Mariana para seguir direto a cidade de
Ipatinga.
No caminho, ao cruzar o pequeno município mineiro de Ilhéus de Prata, a
cerca de 120 quilômetro de onde estávamos, documentamos pela primeira
vez o Rio Doce, que ironicamente amarga uma lenta morte. O Greenpeace
está trabalhando ao lado de parceiros para identificar o grau de
contaminação dessa água, que contém rejeitos minerais como alumínio,
ferro e magnésio.
Chegamos a Ipatinga com um restinho de luz do dia, o suficiente para
registrarmos um Rio Doce bem mais alargado, ainda tomado de lama. O
impacto visual é forte. O impacto ambiental, imensurável.
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Vista do Rio Doce tomado de lama, Ipatinga, Minas Gerais (© Victor Moriyama / Greenpeace)
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Alcançamos Governador Valadares às 21h de um domingo aparentemente
tranquilo na cidade. Mas sabemos que não é nada disso: falta água na
cidade mineira com mais de 270 mil habitantes, que se encontra em estado
de calamidade pública. Agora nosso trabalho será por aqui, e depois
continuamos até o litoral do Espírito Santo para ver a chegada da lama
ao Oceano Atlântico.
Veja mais fotos da expedição no site do Greenpeace, é só clicar aqui :
Como ajudar as vítimas da tragédia de Mariana
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Voluntários moradores da cidade de Mariana em Minas Gerais ajudam a
separar doações como alimentos, roupas, produtos de limpeza e higiene
pessoal e outros itens para os moradores afetados pela lama. Estima-se
que 600 moradores afetados irão receber estas doações. (Fotos: Victor
Moriyama/Greenpeace)
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Muitos de nós, inconformados com as notícias que chegam de Mariana e região, estamos buscando formas de ajudar. Para facilitar essa busca, destacamos os quatro principais sites para informações:
- O Rio Doce Help! é uma iniciativa prática e ágil de um carioca e um mineiro que dá diversas opções para quem quer se envolver.
- O Catraca Livre
fez uma grande pesquisa, com várias opções de apoio, que vão de doações
de alimentos a trabalho voluntário para quem quer ajudar os moradores e
animais da região.
- Já a Cruz Vermelha de Belo Horizonte
está arrecadando água, roupas, cobertores e alimentos não perecíveis em
sua sede e de lá envia para todas as cidades que necessitam de apoio
através da defesa civil e das prefeituras. Mas já adiantamos: o time de
voluntários da Cruz Vermelha de Minas Gerais está em Mariana auxiliando
os bombeiros e a defesa civil e, no momento, não está recrutando novos
voluntários.
- Se você quer dar apoio financeiro, a Juntos está com uma campanha de arrecadação que já é um sucesso.
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É possível dar ordem ao caos.
Pense verde, o planeta azul
agradece.
Abraços, sempre!!!...
Mu®illo diM@tto♪